O impacto da Inteligência Artificial no comportamento humano já é evidente e está se tornando cada vez mais pronunciado. A crescente exposição à internet e nossa constante busca por acompanhar o ritmo acelerado da sociedade moderna estão afetando negativamente nosso modo de pensar.
A enxurrada de informações que encontramos online, impulsionada por algoritmos projetados para maximizar nosso engajamento, está condicionando nossa mente de maneira similar aos experimentos de Pavlov com cães.
Nossas decisões e formação de opiniões agora dependem mais de reações instintivas e julgamentos rápidos do que de reflexão e introspecção.
O resultado é que a IA nos torna mais rápidos, mas não necessariamente mais inteligentes. Vamos explorar as diversas facetas do impacto da Inteligência Artificial no comportamento humano.
O impacto da Inteligência Artificial e a tomada de decisões impulsivas
Em seu livro recente, intitulado “EU, HUMANO: IA, Automação e a Busca para Recuperar o que nos Torna Únicos”, o renomado professor de psicologia empresarial e Diretor de Inovação da ManpowerGroup, Tomas Chamorro-Premuzic, explora as várias maneiras pelas quais os sistemas de IA governam nossas vidas e interações cotidianas.
Seja na busca por amor, emprego ou até mesmo ao descobrir o resultado de um jogo, a IA simplificou o processo de coleta de informações.
No entanto, como Chamorro-Premuzic argumenta, essa revolução da informação está ativamente moldando nosso comportamento, nem sempre para melhor.
A falta de reflexão e a impulsividade digital
Na era da IA, nossos cérebros precisam estar constantemente alertas a pequenas mudanças e reagir rapidamente, priorizando a velocidade em vez da precisão.
Isso nos coloca no chamado “Modo Sistema 1”, que envolve decisões impulsivas, intuitivas, automáticas e inconscientes. Como resultado, estamos nos tornando menos pacientes.
Embora reagir rapidamente ou confiar em nossos instintos possa ser ideal em algumas situações, o verdadeiro problema surge quando a falta de reflexão se torna nosso principal modo de tomada de decisão. Isso leva a erros e prejudica nossa capacidade de identificá-los. Muitas vezes, decisões rápidas são resultado da ignorância.
A adaptação do cérebro e a maleabilidade do comportamento
A intuição pode ser valiosa, mas precisa ser conquistada por meio de esforço. Especialistas, por exemplo, conseguem pensar rapidamente porque investiram milhares de horas em aprendizado e prática.
Sua intuição é baseada em dados e experiência sólida, permitindo que ajam rapidamente com embasamento. Infelizmente, a maioria das pessoas não é especialista, embora muitas vezes acreditem que são.
Quando interagimos com outras pessoas nas redes sociais, tendemos a agir com velocidade, assertividade e convicção de especialistas, oferecendo opiniões sobre assuntos complexos sem o conhecimento necessário para sustentá-las.
A IA, por sua vez, garante que nossas mensagens sejam entregues a um público que provavelmente acreditará nelas, reforçando nossas ilusões de especialização por meio de nossas próprias bolhas de filtro pessoal.
O autocontrole e paciência indispensáveis na era da IA
As plataformas de internet baseadas em IA são uma forma relativamente recente de tecnologia. Contudo, o impacto da Inteligência Artificial no comportamento humano é consistente com evidências anteriores pesquisadas em outras formas de mídia de massa, como TV e videogames. Elas tendem a alimentar sintomas semelhantes ao TDAH, como impulsividade, déficits de atenção e hiperatividade.
À medida que o mundo se torna cada vez mais complexo e o acesso ao conhecimento se amplia, evitamos desacelerar para fazer uma pausa, pensar e refletir. Estamos nos comportando como autômatos irracionais.
A coleta rápida de informações online, como realizar pesquisas instantâneas no Google para obter respostas imediatas, pode prejudicar a aquisição de conhecimento a longo prazo. Além disso, nossa capacidade de lembrar a fonte de nossos fatos e informações pode diminuir.
O cérebro é um órgão altamente maleável e tende a se adaptar ao ambiente e às ferramentas que utiliza. Em alguns contextos e culturas, essas adaptações são ferramentas essenciais para a sobrevivência. Porém, em outros, podem vir causar problemas patológicos.
A desvantagem de nossa natureza adaptativa é que nos tornamos rapidamente uma versão exagerada de nós mesmos.
Nós nos moldamos aos objetos de nossa experiência, amplificando os padrões que garantem nossa adaptação. Quando isso acontece, nossos comportamentos se tornam mais difíceis de mudar.
O equilíbrio entre acesso à informação e checagem de fatos
Claro que não devemos demonizar a tecnologia ou a impaciência em si. A chave está em encontrar o equilíbrio adequado, adaptando nosso comportamento ao ambiente em que nos cerca.
O impacto da Inteligência Artificial na sociedade e o acesso a informações instantâneas podem nos tornar craques em julgamentos rápidos e instintivos. Consequentemente, pode nos afastar de vez da reflexão e introspecção.
Nesse caso, é importante reconhecer que a falta de reflexão pode levar a erros e prejudicar nossa capacidade de detectar falhas em nosso raciocínio. Buscar uma vida que não seja 24 horas conectada e dependente da IA trará benefícios.
A coleta rápida de informações online também pode ter um impacto negativo em nossa capacidade de adquirir conhecimento a longo prazo e de lembrar a origem dos fatos e informações.
É fácil se contentar em consumir informações de forma superficial, em vez de inspecionar, analisar e verificar a veracidade das informações.
O impacto da Inteligência Artificial e a busca por vilões
No entanto, não devemos colocar toda a culpa na tecnologia, mas apenas não nos tornarmos dependentes dela. O autocontrole e a paciência são adaptações indispensáveis na era da IA.
Eles nos ajudam a resistir aos impulsos imediatos e a tomar decisões mais ponderadas e fundamentadas. Desenvolver essas habilidades requer esforço e prática, assim como investir tempo e energia no aprendizado e na aquisição de conhecimento.
À medida que navegamos nesse mundo acelerado e impulsionado pela IA, é crucial que nos mantenhamos flexíveis e dispostos a mudar. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos escravos de nossos próprios hábitos. Ou de cairmos em uma simplificação exagerada, demonizando o impacto da Inteligência Artificial.
Em resumo, o momento é complexo e multifacetado. Embora a IA possa nos fazer pensar mais rápido, isso nem sempre se traduz em uma maior inteligência. A impulsividade e a falta de reflexão podem prejudicar nossa capacidade de tomar decisões informadas e adquirir conhecimento aprofundado.
No entanto, encontrar o equilíbrio adequado entre a impulsividade e a paciência e adaptar nosso comportamento ao ambiente em que vivemos é fundamental para enfrentar os desafios dessa era digital e do impacto da Inteligência Artificial na sociedade.
