É cada vez mais relevante em ambientes de trabalho moderno saber o que é Zero Trust. Principalmente se você levar em conta que, só no primeiro trimestre de 2024, ataques cibernéticos aumentaram 28%, segundo a Check Point Research.
A era do trabalho híbrido e remoto parece estar aqui para ficar e com ela surgem novos desafios de segurança. A pergunta que as empresas estão se fazendo não é se vão implementar Zero Trust, mas quando farão essa transição.
Veja a seguir o que você vai encontrar neste post:
- O que é Zero Trust: quando surgiu o conceito
- Como o conceito de Zero Trust evoluiu: de 2010 aos dias de hoje
- 1. A Origem e a Rejeição do Modelo de Perímetro (2010)
- 2. Adoção Inicial Lenta e o Avanço do BYOD (Bring Your Own Device) (2010–2015)
- 3. Ascensão da Computação em Nuvem e Redes Remotas (2015–2020)
- 4. Integração com Inteligência Artificial e Machine Learning (2020–2023)
- 5. Adoção Ampla e Reconhecimento Governamental (2023–Presente)
- Principais Disrupções no Trajeto do Zero Trust
- O que mudou com o Trabalho Remoto: senhas fracas e erro humano
- O que é Zero Trust na prática: soluções múltiplas
- Como Implementar Zero Trust: passo a passo para sua Empresa
- Quais os Desafios: Implementação do Zero Trust
- O que esperar do Futuro: saber o que é Zero Trust não basta
O que é Zero Trust: quando surgiu o conceito
O modelo Zero Trust parte do princípio de que nenhuma entidade deve ser confiável por padrão, seja um dispositivo, um usuário ou uma aplicação. Cada solicitação de acesso deve ser verificada e autorizada antes de ser concedida, garantindo que nenhum acesso seja permitido sem a devida autenticação.
Ao contrário da antiga abordagem de “castelo e fosso”, onde tudo dentro da rede era confiável após a entrada, o Zero Trust reconhece que ameaças podem vir de qualquer lugar, inclusive de dentro da rede.
Um dos pilares do Zero Trust é a segmentação, que impede que um invasor se mova lateralmente dentro da rede após obter acesso inicial. Além disso, o uso de autenticação multifator (MFA) e micro-segmentação reforça a segurança, garantindo que até mesmo usuários ou processos já autenticados sejam constantemente verificados.
O conceito de Zero Trust surgiu em 2010, criado por John Kindervag, um analista de segurança da Forrester Research. Ele desenvolveu essa abordagem como uma resposta aos problemas e limitações dos modelos tradicionais de segurança baseados em perímetro.
Kindervag percebeu que as redes corporativas modernas estavam cada vez mais vulneráveis a ataques internos e externos, e que confiar automaticamente em qualquer coisa dentro da rede era uma falha crítica.
O modelo Zero Trust, com sua filosofia de “nunca confie, sempre verifique”, trouxe uma nova maneira de pensar a segurança, eliminando a ideia de que qualquer parte da rede deve ser considerada segura por padrão.
Como o conceito de Zero Trust evoluiu: de 2010 aos dias de hoje
O conceito de Zero Trust passou por uma evolução significativa desde sua criação em 2010, à medida que a tecnologia avançou e as ameaças cibernéticas se tornaram mais sofisticadas. Vamos explorar as principais fases dessa evolução e as disrupções que moldaram o trajeto do conceito.
1. A Origem e a Rejeição do Modelo de Perímetro (2010)
Quando John Kindervag introduziu o Zero Trust, o modelo de segurança mais comum baseava-se na criação de um perímetro de rede, como uma “muralha” ao redor dos ativos digitais. A ideia era proteger tudo que estivesse “dentro”, tratando o que estava fora como uma ameaça. O Zero Trust trouxe uma ruptura ao sugerir que essa abordagem era falha, já que permitia que uma vez que um invasor entrasse no perímetro, ele tivesse acesso livre ao restante da rede.
A partir dessa percepção, o Zero Trust mudou a lógica para um modelo de verificação contínua, no qual cada tentativa de acesso, seja de dentro ou fora da rede, precisaria de autenticação e autorização.
2. Adoção Inicial Lenta e o Avanço do BYOD (Bring Your Own Device) (2010–2015)
Nos primeiros anos após sua introdução, o Zero Trust foi adotado lentamente. A maioria das empresas ainda confiava em arquiteturas baseadas em perímetro, e a mudança parecia complexa. Entretanto, com o aumento do uso de dispositivos pessoais (BYOD) no ambiente de trabalho, o conceito de Zero Trust começou a ganhar mais relevância.
Dispositivos móveis e laptops conectados a redes corporativas trouxeram novos vetores de ataque, e o modelo Zero Trust começou a ser visto como uma solução viável para lidar com essa expansão do “perímetro”. Essa fase marcou a primeira disrupção do conceito, à medida que as empresas começaram a perceber que o perímetro de rede era dinâmico e indefinido.
3. Ascensão da Computação em Nuvem e Redes Remotas (2015–2020)
A transição para a computação em nuvem e o aumento de trabalho remoto criaram outro marco disruptivo para o Zero Trust. À medida que as empresas migravam dados e aplicações para plataformas de nuvem como AWS, Azure e Google Cloud, o conceito de perímetro físico se tornou obsoleto.
Essa fase foi essencial para o fortalecimento do Zero Trust, pois agora era claro que a segurança tradicional não conseguiria proteger os ativos dispersos em várias localizações e provedores de serviços. O modelo foi adaptado para ambientes de multicloud, onde o acesso seguro e a segmentação de rede entre nuvens diferentes se tornaram prioridade. O conceito de “nunca confie, sempre verifique” ganhou novas camadas de verificação, incluindo autenticação multifator (MFA) e sistemas de controle de acesso mais granulares.
4. Integração com Inteligência Artificial e Machine Learning (2020–2023)
Nos anos mais recentes, a evolução da inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) causou outra disrupção significativa no modelo Zero Trust. Com a crescente sofisticação dos ataques cibernéticos, tornou-se impossível para as equipes de segurança monitorarem e responderem a todas as ameaças manualmente. Soluções baseadas em IA e ML começaram a ser integradas ao Zero Trust para automatizar a análise de tráfego e comportamentos suspeitos.
Essas tecnologias permitiram a criação de sistemas de detecção e resposta automatizados, que identificam padrões de uso anormais, analisam tráfego em tempo real e respondem a ameaças antes que elas causem danos significativos. Isso também facilitou a segmentação dinâmica da rede, onde os fluxos de dados são automaticamente adaptados às políticas de segurança em tempo real.
5. Adoção Ampla e Reconhecimento Governamental (2023–Presente)
Hoje, o Zero Trust se tornou uma abordagem mainstream, adotada por grandes corporações e também recomendada por governos. Em 2021, a administração dos Estados Unidos lançou uma ordem executiva exigindo que todas as agências federais adotassem o Zero Trust como parte de suas políticas de cibersegurança.
Esse movimento foi uma resposta a uma série de ataques de alto perfil, como o ataque ao Colonial Pipeline e à empresa de software SolarWinds.
Governos de outros países também começaram a exigir que setores críticos, como energia, telecomunicações e saúde, implementassem princípios de Zero Trust para evitar ataques catastróficos. Essa institucionalização marca uma disrupção no campo da regulamentação de segurança cibernética, estabelecendo-o como um padrão obrigatório.
Principais Disrupções no Trajeto do Zero Trust
- Substituição do modelo de perímetro: A rejeição da confiança automática dentro do perímetro foi a primeira disrupção crítica, marcando o nascimento do Zero Trust.
- BYOD e mobilidade: O uso de dispositivos pessoais no ambiente corporativo forçou as empresas a adotar novas estratégias de segurança, impulsionando o crescimento do Zero Trust.
- Computação em nuvem e multicloud: A transição para a nuvem dissolveu os limites da rede, fazendo com que o Zero Trust se tornasse necessário para proteger dados e acessos em ambientes diversificados.
- Integração com IA e ML: O uso de tecnologias de automação para detectar ameaças e adaptar políticas de segurança em tempo real transformou o Zero Trust em um modelo ainda mais eficaz.
- Regulamentação governamental: A exigência de adoção do Zero Trust por agências governamentais e setores críticos consolidou a abordagem como o novo padrão em segurança cibernética.
O que mudou com o Trabalho Remoto: senhas fracas e erro humano
Com a chegada da pandemia, o trabalho remoto se consolidou como uma realidade em empresas de todos os portes. Ferramentas como Zoom se tornaram fundamentais, e a migração para o modelo de nuvem híbrida foi acelerada para permitir que os colaboradores acessassem seus trabalhos de qualquer lugar.
No entanto, muitas plataformas e sistemas não estavam preparados para lidar com esse novo cenário de ameaças, o que resultou em um aumento expressivo de ataques cibernéticos.
Além disso, a falta de educação dos usuários em práticas de segurança tornou-se evidente. Um estudo da WEC em 2022 mostrou que 95% dos incidentes de segurança cibernética foram causados por erro humano, como o uso de senhas fracas e a falta de bloqueio automático em smartphones. Para enfrentar esses desafios, surgiu a necessidade de uma nova abordagem de segurança, que protege as redes e dispositivos acessados por colaboradores remotos.
O que é Zero Trust na prática: soluções múltiplas
Para entender como o Zero Trust funciona, é importante conhecer os principais componentes que sustentam essa abordagem. O modelo não é apenas uma solução tecnológica, mas uma filosofia que exige a implementação de diversas estratégias e tecnologias para criar uma rede à prova de falhas.
Princípio do Menor Privilégio
O princípio do menor privilégio é uma das bases do Zero Trust. Ele garante que usuários e sistemas tenham acesso apenas aos recursos necessários para realizar suas funções. Ou seja, sempre que um colaborador solicitar acesso a uma aplicação ou dados, essa solicitação será avaliada com base nas necessidades de seu cargo. Essa estratégia minimiza os riscos, pois limita as oportunidades para que invasores acessem informações sensíveis.
Gestão de Identidades e Acessos (IAM)
O IAM é outro componente crucial. Esse sistema automatiza o processo de autenticação dos usuários e garante que cada um tenha acesso apenas ao que é necessário. Além disso, ele gerencia a remoção de permissões quando um funcionário deixa a empresa. O IAM é a engrenagem que mantém o Zero Trust em funcionamento, reforçando o princípio do menor privilégio.
Autenticação Multifator (MFA)
A MFA se popularizou entre os consumidores em ambientes como bancos e plataformas governamentais. No contexto do Zero Trust, essa autenticação adiciona uma camada extra de segurança ao exigir que o usuário confirme sua identidade por meio de diferentes vetores, como um código enviado por SMS ou e-mail. Isso dificulta que invasores obtenham acesso, mesmo que consigam credenciais de login.
Segurança de Endpoints
Com o aumento do uso de dispositivos pessoais para acessar redes corporativas, conhecido como BYOD (Bring Your Own Device), a segurança dos endpoints se tornou uma prioridade. O uso de ferramentas de detecção e resposta de endpoint (EDR) monitora e protege dispositivos, identificando vulnerabilidades e reagindo automaticamente a ameaças.
Segmentação
A segmentação divide a rede em zonas menores e mais seguras, garantindo que, caso um invasor consiga acessar uma parte da rede, ele não consiga se mover livremente para outras áreas. Isso cria camadas adicionais de proteção, dificultando o sucesso de ataques cibernéticos.
Como Implementar Zero Trust: passo a passo para sua Empresa
Não existe um único caminho para a implementação, mas algumas etapas são amplamente recomendadas para iniciar esse processo de forma eficaz.
- Defina a Superfície de Ataque: Identifique as informações mais sensíveis e separe-as do restante dos dados. Isso ajudará a priorizar a proteção e a criar barreiras mais eficazes.
- Implemente Controles de Segurança: Após definir a superfície de ataque, é hora de implantar as tecnologias necessárias, como segmentação e autenticação multifator, para proteger esses dados.
- Arquitetura da Rede Zero Trust: Divida sua rede em micro-segmentos e certifique-se de que cada segmento possua suas próprias verificações de segurança para permitir acessos.
- Crie Políticas de Segurança: Defina regras claras sobre como o Zero Trust será aplicado na organização, garantindo que todos os usuários compreendam as novas práticas.
- Monitore e Audite: Após a implementação, é fundamental monitorar o desempenho da rede e identificar qualquer impacto negativo nas operações. Auditar regularmente os sistemas ajuda a identificar falhas e a ajustar os processos conforme necessário.
Quais os Desafios: Implementação do Zero Trust
Embora o Zero Trust ofereça uma proteção robusta, sua implementação pode ser complexa e cara. A IBM revelou que o custo médio de uma violação de dados é de 4,45 milhões de dólares, o que torna o investimento em Zero Trust uma decisão inteligente a longo prazo.
No entanto, implementar esse modelo em arquiteturas já existentes pode exigir a criação de novos segmentos na rede, o que pode ser custoso. Alternativamente, algumas empresas optam por migrar para novas arquiteturas de segurança com o Zero Trust já integrado.
É quase unanimidade que um dos maiores obstáculo está no treinamento de funcionários e clientes. Mudanças nos processos de segurança geram resistência, especialmente quando se trata de novas etapas de autenticação, como o uso de MFA. Empresas precisam investir tempo em educar suas equipes para que compreendam e adotem as novas práticas de forma eficiente.
Além disso, não adianta adotar estratégias que esgarcem a confiança de funcionários e clientes, como sistemas que usem biometrias. Se todos os dados são potencialmente passíveis de vazamento, coletar dados biométricos, como reconhecimento facial ou impressão digital, é uma péssima ideia.
Pois se os dados do reconhecimento facial de uma pessoa vazar, o que é perfeitamente possível, ela não tem como trocar, como faria com uma senha, por exemplo.
O que esperar do Futuro: saber o que é Zero Trust não basta
Com os ataques cibernéticos previstos para causar danos na casa dos trilhões de dólares nos próximos anos, a adoção do Zero Trust é uma escolha estratégica que empresas não podem ignorar. A previsão é que o mercado desse modelo de segurança ultrapasse os 82,45 bilhões de dólares até 2030, com as pequenas e médias empresas liderando esse crescimento.
A evolução do modelo continuará a se adaptar às novas ameaças e tendências tecnológicas. No futuro, veremos a adoção mais ampla de tecnologias baseadas em blockchain para validar identidades e transações, bem como a utilização de identidades digitais descentralizadas. O Zero Trust também se beneficiará do uso de criptografia homomórfica, que permitirá a análise de dados criptografados sem expô-los, oferecendo uma camada extra de proteção.
Além disso, com o crescimento da Internet das Coisas (IoT), o Zero Trust enfrentará o desafio de proteger milhões de dispositivos conectados que operam em redes críticas. A necessidade de microssegmentação e de políticas de acesso ainda mais rigorosas continuará a expandir os limites do que esse modelo pode alcançar.
Adotar o Zero Trust é um desafio, mas ficar à mercê das ameaças não é uma alternativa. Basta ver os inúmeros casos de prejuízos estrondosos que algumas empresas já amargaram nos últimos anos por não adotarem um sistema de prevenção mais elevado.
Se deseja entender melhor como as tecnologias emergentes se alinham com o Zero Trust, não deixe de ler nosso artigo sobre Como a Internet 5G Está Transformando a Conectividade Global.